O PROTAGONISTA FORTE E O VERDADEIRO PROTAGONISTA

16:34

O regresso de Benedita Pereira às telenovelas nacionais foi um dos assuntos mais falados antes da estreia de Santa Bárbara. Segundo a actriz, faria sentido aceitar o convite para viver Gabriela, pois a personagem era "cheia de garra".
Ora, a telenovela de Artur Ribeiro terminou recentemente e, só atendendo ao último episódio, é gritante que a personagem com mais destaque era Antónia, a alegada vilã.


Este foi, aliás, o maior problema ao longo de toda a história, que, aparentemente, ninguém da equipa de guionistas percebeu.
Gabriela apresenta-se originalmente como uma mulher de pêlo na venta, displicentemente vestida e sempre de semblante carregado. É, de facto, a tal mulher forte, com "garra", que a actriz descrevia.


Mas foi Antónia que matou o marido para ganhar poder. Foi Antónia que manipulou a mina e todas as pessoas nela envolvidas. Foi Antónia que solucionou todos os problemas que lhe foram apresentados. E nas áleas de vítimas que fez está simplesmente Gabriela.
Não basta termos uma alegada protagonista arisca para termos uma boa história. Temos de ter uma protagonista activa.


O mesmo acontece na telenovela Rainha das Flores. Temos Rosa, uma suposta protagonista amnésica, que nada mais é do que um fantoche nas mãos da irmã, Narcisa. É a vilã que vai fazendo de tudo para ganhar poder na empresa familiar e para acabar com o casamento de Rosa. É ela que queremos ver quando ligamos a televisão.
E isto está errado. Porque foi outra pessoa que nos apresentaram como protagonista no início da trama.


Se não soubermos apresentar nos primeiros dez minutos de programa a verdadeira essência da história que temos, ela ficará, inelutavelmente, sem identidade. Porque o público perde, quase imperceptivelmente, fé nas personagens.
Se o protagonista é suposto ser o vilão, então que assim seja. Desde o início. Veja-se o caso de Laços de Sangue, em que, desde o episódio piloto, acompanhamos Diana numa viagem de vingança em relação à família que a abandonou.


E, de igual modo, um protagonista activo não tem de ser o tal ente "cheio de garra" e de personalidade vincada. Podemos ter uma pessoa doce e frágil que encerre em si todas as qualidades de um bom protagonista. A personagem Luz, da telenovela Deixa Que Te Leve, em reposição na TVI, é prova disso. Afigura-se uma jovem meiga e carinhosa com todos os trabalhadores do hotel de que é dona. E, ao mesmo tempo, avança, sem distracções, para que o negócio lucre, uma vez que é esse o objectivo principal. É também ela que, sem freios, sabe qual é o homem que quer na sua vida e faz frente a todas as forças antagónicas que anseiam pela queda do hotel.
A força de um protagonista não depende dos adjectivos que lhe são atribuídos. Depende do que faz.

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