MELODRAMA REINVENTADO (CRÍTICA A "THIS IS US")

19:35

Desde o final do sucesso Parenthood que a televisão norte-americana estava orfã de dramas familiares. Mas This Is Us preenche esse espaço com a mesma mestria da antecessora.

This Is Us, a nova série da NBC, é a grande série da rentrée televisiva no que aos canais em sinal aberto diz respeito.


Do argumentista dos filmes Tangled e Crazy, Stupid Love, o que Dan Fogelman melhor nos apresenta, nesta história de três famílias cujos problemas e passado se cruzam, são os diálogos e a forma como desconstroem as cenas melodramáticas que, noutras mãos, poderiam resvalar para o terreno do cliché e do blasé.


Numa das cenas do quarto episódio da trama, Toby enfurece-se por Kate, a namorada, ter arranjado trabalho na loja da ex-mulher dele, unicamente movida pela desconfiança e ciúme relativamente a ela. Temos uma discussão acesa, como esperado, culminando na confidência de Toby sobre o facto de a ex-mulher o ter traído, deixando-o à beira do suicídio.


Contudo, o desenlace é absolutamente genial. Toby senta-se ao lado da namorada, reconhecendo que elas trabalhariam bem juntas. E Kate, por seu turno, aproveita a deixa para lhe perguntar se pode ficar com o presente que a já-não-futura patroa lhe deu: Um portfolio. Toby reponde peremptoriamente que não, mas, ao afagar o objecto e ao sentir o couro, fica deleitado, baixando a guarda.


Esta forma aparentemente tosca, concernente ao modo como os personagens lidam com as situações de tensão, é absolutamente genial. É um chuto no melodrama, depois de ser reconhecido. Já para não falar dos diálogos sempre argutos e espirituosos, que conseguem metamorfosear o melodrama barato em algo inteligente. E, sejamos sinceros, uma série deste tipo brama por perspectivas originais.


É que temos um actor de televisão insatisfeito com o sucesso que tem, uma obesa com falta de auto-estima e um homem de negócios que encontra o pai que o abandonou quando era bebé.
Se não existissem estes vincos de frescura e um trabalho empenhado nas cenas, o produto pura e simplesmente não valeria a pena. E a cena de abertura do terceiro episódio é prova disto mesmo.


Nela, vemos como o pai biológico de Randall conheceu, apaixonou-se, e terminou o namoro com a sua mãe. Tudo se passa numa questão de minutos e sempre num autocarro, sem diálogo algum: Primeiramente, ao entrar no veículo, o homem e a mulher cruzam olhares interessados; depois, já os vemos sentarem-se ao lado um do outro; posteriormente, estão cúmplices, já namorados; entretanto vêmo-los de semblante mais carregado, ainda lado a lado; e, por fim, vemos o homem sozinho, bastante mais desajeitado e magro, segurando o bebé, pronto a ser abandonado.


Penso, sinceramente, que as séries muito emocionais são as mais difíceis de se escrever. Porque lidam com problemas, emoções e histórias de vida reais. O truque está no modo como as situações nos são apresentadas e no balanço das emoções e dos comportamentos das personagens.
Admito que a série possa esgotar-se facilmente, caso se perca o engenho nas várias nuances sentimentais em cada cena, nas pausas, nas acções, nas interpretações, no objectivo da série, até porque o conceito não é, de todo, original. Mas, por ora, é talvez a grande série estreante do ano.

This Is Us é transmitido na NBC, às terças-feiras.

Classificação: ☆*




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★★★★☆- Muito Bom
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